ESPECIAL: LEILÃO GLOBAL DE DERIVADOS DE H2V É OPORTUNIDADE PARA O BRASIL, AVALIAM ESPECIALISTAS

0 minutos de leitura

A participação e eventual sucesso de empresas brasileiras no leilão global de derivados de hidrogênio verde promovido pela Alemanha no âmbito da política H2Global são vistos por especialistas como oportunidades para o desenvolvimento da cadeia de valor do insumo no Brasil. O País, com sua matriz elétrica limpa, é visto como potência latente no setor.

O certame visa a contratação por 10 anos de três diferentes produtos: amônia, metanol e combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês). Para isso, o governo alemão criou a Hintco, uma empresa que fará a intermediação entre as companhias vendedoras e as compradoras, que poderão fazer a aquisição em prazos curtos. A companhia conta com um fundo de 900 milhões de euros para subsidiar parte dos preços.

Poderão participar apenas empresas de fora da Europa. A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) Thereza Aquino explica que a referência são as unidades industriais das companhias de modo que, mesmo aquelas que tenham matriz na Europa, conseguem concorrer. A ideia, diz, é avançar na descarbonização do velho continente, além de garantir um fornecimento diversificado, medida acelerada em meio à crise provocada pela Guerra na Ucrânia, diante da dependência dos combustíveis da Rússia.

Para ela, a participação de companhias brasileiras, mesmo que via consórcios, “seria um sinal muito positivo para o Brasil ao mostrar que o País tem condições e competitividade para concorrer com qualquer um a nível mundial” e poderia “abrir o caminho” para projetos que constam em memorandos de entendimentos, além “acelerar todo esse processo do governo federal”, em referência ao Plano de Trabalho Trienal do Programa Nacional do Hidrogênio (2023-2025), visto por analistas como carente de metas até o momento.

De acordo com o diretor-geral da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit Gmbh (GIZ) Brasil, Markus Francke, o impacto do certame deve ser bastante relevante, por ser “a primeira vez que internacionalmente vão criar um mercado para este tipo de produto”, em referência aos derivados de hidrogênio verde.

“Este primeiro leilão será o mais importante para dar ao mercado uma ideia de valor, como funciona, quais são os produtores, quais são os compradores. Eu creio que vá ter uma influência muito grande no desenvolvimento do mercado do hidrogênio verde”, explicou.

Como funciona

A primeira chamada para o leilão é apenas para amônia. Depois serão abertas as chamadas para metanol e querosene de aviação. As empresas interessadas nesta primeira etapa submeteram até a última terça-feira, 28, os documentos que comprovem a idoneidade de suas corporações. As demais ainda não têm prazo. A entrega dos produtos está prevista para a partir de 2024 e poderá a ser feita em lotes que podem crescer em volumes de forma faseada até 2033.

As empresas que cumprirem esses critérios passam por uma segunda etapa, na qual pontuam conforme critérios como mínimo de receita da empresa ou consórcio, de funcionários qualificados, previsão de investimento no projeto, entre outros. A partir daí cinco finalistas vão de fato para o certame.

Para o diretor de Internacionalização de Empresas e Desenvolvimento de Negócios da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo), Alessandro Colucci, empresas que tenham certificações ISO 14.001 e 50.001 “já têm muitas vantagens”, porque comprovam essa preocupação com certos assuntos que o governo alemão gostaria de mudar.

“A ideia é que as empresas entreguem uma proposta comprovando a capacidade de poder fornecer amônia verde por 10 anos, começando no fim de 2024 ou início de 2025, e fazendo um lance com quantidade mínima e máxima que eles conseguem fornecer, inclusive, com o preço final, e os portos destino tem que ser um porto na Bélgica, na Holanda ou na Alemanha para fazer o cálculo do custo final”, completou.

Diferenciais do Brasil

Para ele, o Brasil está bem posicionado para o certame porque tem a energia renovável barata e uma potencial demanda interna para o consumo de hidrogênio verde. “Além disso, tem a questão da facilidade de como chegar nos portos europeus. Chile e Austrália estão bem mais longe e os navios que saem do Ceará ou do Rio de Janeiro não vão atravessar águas problemáticas do ponto de vista geopolítico. É um trajeto tranquilo”, pontuou.

O diretor de Inovação e Sustentabilidade da mesma instituição, Bruno Vath Zarpellon, ressalta que embora o País tenha peculiaridades em virtude da questão geográfica, os desafios são “muito similares” com os de outros locais do mundo em termos de avanço da cadeia de valor do insumo como um todo.

Certificação

De acordo com o representante da GIZ Brasil, uma das principais dúvidas das empresas que procuraram a companhia a respeito do certame está relacionada às certificações que comprovem que o produto fornecido realmente será considerado “verde”, de acordo com as determinações europeias.

Para auxiliar esse processo, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) anunciou que certificará possíveis vencedores do certame. “Como operadora do mercado brasileiro de energia, a CCEE tem acesso a todos os registros de contrato de energia elétrica no Brasil […]. Dessa forma, a organização consegue ter em sua base de informações detalhes acerca do processo de geração de todos os agentes e, neste caso, também dos possíveis operadores do H2V no País”, informou em nota.

Ao Broadcast Energia, o gerente de Análise e Informações ao Mercado na CCEE, Ricardo Gedra, explicou que a certificação lançada em dezembro pela instituição se baseia na diretiva europeia de energia, apesar das divergências conceituais entre países.

“Existem alguns padrões pelo mundo, ainda não tão especificamente do hidrogênio, mas que se aplicam a ele, e quem está mais avançado nesse assunto é a Europa. E com o contexto da guerra, isso ainda ficou mais premente. Além disso, a Europa pode ser o principal comprador internacional junto com o Japão, que é mais difícil em termos de logística para o Brasil. Então faz mais sentido o Brasil seguir o padrão europeu”, disse sobre a escolha.

Fonte: Broadcast Energia 

Gostou deste conteúdo? Deixe sua opinião: